Em algum lugar de um passado próximo
Era segunda-feira de manhã e lá estava você. Camisa bem passada, sapato engraxado, olhar sério. O dedo pronto para bater o ponto, porque chegar cedo não era apenas rotina: era sinal de comprometimento. O crachá registrava presença, e o holerite com horas extras estampava orgulho, quase um troféu. Sair no horário? Arriscado. Podia parecer falta de engajamento.
O reconhecimento vinha em parcelas longas: anos de casa até receber o relógio de prata, a caneta com nome gravado ou a placa de “funcionário dedicado”. Promoções eram degraus lentos, júnior, pleno, sênior, até, quem sabe, chegar à gerência.
A vida era analógica, segmentada e amplamente desconectada. No trabalho, só se falava de trabalho. As notícias da economia ou da política vinham no rádio, no jornal ou no telejornal da hora do almoço. Em casa, era casa. Não havia e-mail à noite, WhatsApp de madrugada nem reunião surpresa no fim de semana.
E o chefe? Aquela figura temida, quase inacessível. Sala fechada, secretária na porta, postura intocável.
“Senhor”, “doutor”, “chefe”: antes de qualquer frase, vinha o título. As decisões eram unilaterais. O time só era comunicado depois. Mandava quem podia, obedecia quem tinha juízo.
Quem “dava o sangue,” fosse isso ficar até tarde, ou abrir mão da vida pessoal, ganhava pontos e, quem sabe, um convite para entrar na famosa “panela”.
O mundo corporativo dos anos 90 e 2000 respirava rigidez, hierarquia e obediência. Fidelidade ao emprego era virtude. Trocar de empresa? Quase traição. Havia ordem, previsibilidade e com isso, um certo conforto em saber exatamente onde cada um devia estar.
Mas o mundo capotou…
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Boa leitura!
Por: Henrique Gomes Neto